segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Livro da Sabedoria da Tradição Céltica Wiccana


IMPORTANTE:

Neste, está contido a tradução do Livro da Sabedoria da Tradição Céltica Wiccana.


É importante deixar claro que ele não deriva do povo celta, e foi criado por uma das tradições da wicca.
A Wicca é uma religião contemporânea, tem apenas 60 anos, o povo celta, por sua vez, viveu nas antiguidades e tinha como religião, o Druidismo.
Dentro da Wicca contemporânea se encontram facções, grupos ou tradições, que seguem a religião com seus próprios conceitos e ideias.
Uma dessas tradições é a Tradição Céltica.

Portanto, nesta brochura, está traduzido o Livro das Sombras que contém as verdades e idéias difundidas pela Tradição Céltica.

É uma tradução do livro original desta Tradição, em Galês (de Galês próximo à Grã-Bretanha).

Não deve ser confundido com O Livro das Sombras que diz-se existir desde a Antigüidade, no qual estariam escritas as grandes verdades da Arte e teria sido escrito por Druidas.

Este livro, na realidade, não existe, uma vez que os Druidas não escreviam seus ensinamentos e leis, que eram passados oralmente à pessoas.

É importante não confundi-lo também com o Livro das Sombras pessoal, que cada bruxo possui para fazer anotações e registrar feitiços.

O texto traduzido aqui se intitula, também, O Livro das Sombras, mas só possui leis aceitas e difundidas pela Tradição Céltica.
Não existe, nesta brochura, nenhum feitiço ou rito correspondentes a esta Tradição, ou, qualquer de seus membros.
Aqui está traduzida, unicamente, as leis difundidas por ela.



O Livro da Sabedoria

I - Esta é a Lei, antiga e aceita, tal como se prescreveu.

II - Ela foi feita para os adeptos, por guia, ajuda e conselho em todas as suas aflições.

III - Cumpre aos adeptos reverenciar os Deuses e Deusas, obedecendo-lhes a tudo que for dito, na conformidade de seus mandamentos; eis que foram propostos para esses mesmos adeptos, e isto se fez por seu bem; assim como a reverência aos Deuses e Deusas bem é de sua conveniência. Na verdade, os Deuses, assim como as Densas, amam os que se confraternizam e chamam-se irmãos, nos círculos dos iniciados.

IV - Tal como um homem ama a sua mulher, não devem os adeptos ocupar o domínio dos Deuses e Deusas, mas sim que promovam amá-los através de actos e manifestações deste sentimento.

V - É necessário que o círculo dos adeptos, o qual templo é dos Deuses e das Densas, seja levantado e purificado, pois assim lugar merecido será, onde estarão Deuses e Deusas em presença.

VI - E os adeptos se prepararão, e estarão purificados, a fim de que possam ir à presença dos Deuses e diante das Densas.

VII - E os adeptos elevarão forças com poder, desde seus corpos, para que, repletos, tornem o poder aos Deuses e Densas, tanto com amor quanto reverência no íntimo de seus corações.

VIII - Tal como doutrina foi estabelecida, do passado; pois tão-somente assim é possível haver comunhão entre homens e Deuses; e entre Deusas e homens; visto que nem podem os Deuses, assim como as próprias Densas, estender seu auxílio aos homens, sem a mesma ajuda destes.

IX - E uma haverá a Suma Sacerdotisa, a qual regerá o círculo dos adeptos, como elo de ligação dos Deuses, assim como das Deusas.

X - E haverá um Sumo Sacerdote que a sustentará nos seus feitos, como representante dos Deuses, assim como das Densas

XI - E a Suma Sacerdotisa escolherá a quem bem queira, desde que baste em hierarquia, para que lhe dê assistência, na condição de Sumo Sacerdote.

XII - Atentando-se a que, tal como os próprios Deuses lhe beijaram os pés, a Arádia (deusa suprema), e por cinco vezes a saudaram, depondo seus poderes aos pés das densas, em submissão - pois que eram elas juvenis e dotadas de toda beleza, e em si havia gentilezas como havia doçuras; sabedoria como justiça; humildade e generosidade.

XIII - Assim mesmo a ela confiaram todos os poderes divinos que eram de sua própria característica.

XIV - Eis que, porém, a Suma Sacerdotisa deve ter em espírito que todos os seus poderes emanam dos Deuses, e das Densas também.

XV - E os poderes lhe são cedidos tão-somente por uns tempos, para que deles usem; com sabedoria e bom-senso que assim os usem.

XVI - E portanto, sempre que esta Sacerdotisa vier a ser julgada pelo Conselho dos que são adeptos, a ela caberá aceitar a renunciar o poder -de boa vontade - em favor de uma mulher que seja mais jovem.

XVII - Porque a Suma Sacerdotisa, quando legítima, há de reconhecer que uma de suas virtudes mais sublimes é ceder a honra de sua posição, em gesto de boa vontade, para aquela outra mulher que deve sucedê-la.

XVIII - E por compensação de seu ato, ela voltará a esta posição de Suma Sacerdotisa numa vida futura, com poder e suprema beleza, sempre aumentados, pois assim é a prescrição da Lei.

XIX - Ora, nos tempos antigos, quando a Lei entre os adeptos se estendia aos longes, vivíamos em gozo de liberdade; e nossos cultos e ritos tinham por local os mais nobres dos tempos.

XX - Mas correm agora dias infelizes, em que precisamos celebrar em secreto os nossos sagrados e santos mistérios.

XXI - E hoje que esta seja a Lei: que ninguém que não seja adepto possa estar presente a estes nossos mistérios; porque muitos são aqueles que não nos tem afecto; e a língua do homem na tortura se desata.

XXII - E hoje que esta seja a Lei: que nenhum dos locais de nossos círculos de adeptos sejam conhecidos pelos desafectuosos ou sejam por ali estejam.

XXIII - E nem saibam quem são nossos membros, com excepção apenas do Sumo Sacerdote e da Suma Sacerdotisa, bem como aquele que conduza as mensagens nas anunciações.

XXIV - E não se estabelecerá relação entre um e outro círculo de adeptos; salvo por mediação daquele que faz a anunciação dos Deuses, ou leva a palavra das convocações dos círculos.

XXV - E quando tudo esteja muito a salvo, é dito aos círculos dos adeptos que se encontrem em lugar determinado, em segurança, para celebração das grandes festas.

XXVI - E enquanto ali se acharem, nenhum dos presentes dirá de onde veio, nem seus nomes reais se farão conhecidos.

XXVII - E isto é para que, se algum deles for torturado ou interrogado, não possa, em sua agonia, dizer o que lhe mandam, pois não o sabe.

XXVIII - E fique este mandamento: que nenhum irmão ou irmã diga a um estranho à Lei, quem são os adeptos; que não declare nomes,; nem contará onde se reúnem; nem por qualquer forma ou maneira, trairá algum de nós aos que nos perseguem para a morte.

XXIX - Nem se dirá onde fica o lugar do Grande Conselho dos Adeptos.

XXX - Nem tampouco, a Sua Própria Sede, onde se encontram os seus companheiros Circulo, em particular.

XXXI - Nem onde serão os encontros do Círculo que fazes parte.

XXXII - E se alguém infringir as Leis, ainda que na sua agonia dos suplícios, sobre sua cabeça desabará a maldição da Grande Deusa, de tal modo que nem venha a renascer nestes elementos conhecidos por nós, e que sua permanência eterna seja no inferno dos que se dizem cristãos.

XXXIII - E que, cada uma dentre as Sumas Sacerdotisas presida sobre seu próprio Círculo, distribuindo amor e justiça, com ajuda e conselho do Sumo Sacerdote, e dos mais antigos, dando ouvido em constantes ocasiões, ao que traz a mensagem dos Deuses, nas anunciações que ocorrerem.

XXXIV - E ela dará ainda mais ouvidos às observações dos que se dizem irmãos; e todas as disputas e diferenças que haja entre eles sejam de sua responsabilidade.

XXXV - Entretanto, força é reconhecer que haverá em todos os tempos, adeptos discutindo com rivalidade para forçar suas decisões e vontade a outros.

XXXVI - Não que isso em si seja mau.

XXXVII - Porque muitas vezes, se expressam boas ideias; e as que sejam boas devem ser discutidas em Conselho.

XXXVIII - Mas havendo divergência ou incoerência quanto às ideias, no confronto dos irmãos e irmãs, ou se for dito:

XXXIX - “Não aceitarei as ordens da Suma Sacerdotisa”,

XL - É bom que se saiba: a Lei antiga sempre foi da conveniência dos adeptos unidos, e assim se evitarão disputas.

XLI - E quem discordar terá o direito de estabelecer um novo círculo de adeptos; e isso também é necessário quando um de seus membros precisar afastar-se, indo morar em local distante das Sedes, ou quando as vinculações ficarem perdidas entre o Círculo e esse adepto em particular.

XLII - E qualquer um que tenha sua moradia perto das Sedes dos Círculos dos adeptos, mas se mostre desejoso de estabelecer novo Círculo, assim o dirá aos mais antigos, declarando-lhes sua intenção. E isto dito, poderá afastar-se na mesma hora, e buscar outro lugar distante.

XLIII - Ainda assim, os que sejam membros de um Círculo antigo poderão mudar-se para o novo. Mas se o fizerem, e necessário removerem-se para sempre, do local do Círculo antigo, do qual faziam parte.

XLIV - Os mais antigos, do novo e do velho Círculo, porém, decidirão em entendimento mútuo, e com amor fraterno, sobre os novos rumos em que devem se firmar, na separação dos dois Círculos de adeptos da Lei.

XLV - E os praticantes da Arte que tenham suas moradias em local distante dessas ambas Sedes, fora de seus limites, poderão pertencer a um ou outro destes, e não aos dois no mesmo tempo.

XLVI - Entretanto todos poderão sob permissão dos mais antigos, comparecer aos festivais solenes, desde que haja paz e fraternal afecto entre os presentes.

XLVII - Mas quem leva a desavença ao seio dos Círculos dos adeptos é réu de punição severa, e para tanto se fizeram as velhas leis: assim, que a maldição da Suprema Deusa lhe desabe sobre a cabeça, a toda Lei que desconsiderar. E tal é o mandamento.

XLVIII - E se tu tiveres contigo um Livro Das Sombras, que este seja escrito por tua letra e de teu punho. Mas se qualquer dos irmãos ou das irmãs, for desejoso de ter uma cópia, assim será por certo; mas não deixes nunca que tal livro te saia das mãos; e nem tragas contigo, nem tenhas sob tua guarda aquilo que outra pessoa escreveu e que o seja de letra e punho deste.

XLIX - Eis que se tal livro for encontrado com outra pessoa, e seja de tua letra, esta pessoa poderá ser levada a julgamento.

L - E que cada um tenha consigo o que seja de sua mesma escrita e próprio punho, destruindo o que deva ser destruído, toda vez que estiver sob ameaça e risco maior.

LI - E que o que aprenderes seja perfeitamente sabido; mas, passado o perigo e afastados os riscos, escreverás em teu Livro, quando houver segurança; e o que antes tiveres escrito e destruído, nessas ocasiões o reescreverás.

LII - E se for sabido que algum dos adeptos morreu, será dever a destruição deste seu Livro Das Sombras, e de semelhantes, para que não caia em mãos erradas, entre profanos.

LIII - Prova constituirá, certamente, contra aquele profano que tiver o Livro de um dos irmãos da Arte, pois não é filho da Lei.

LIV - E contra também aos profanos que nos oprimem e dizem:
“Ninguém é bruxo e está sozinho”.

LV - Portanto todos os teus parentes e amigos podem se encontrar sob risco de torturas e investigações,

LVI - E isto é a razão porque tudo o que se escreveu deve ser destruído.

LVII - Mas se teu Livro Das Sombras for achado contigo, isto se demonstrará contra ti e somente tu serás citado às cortes profanas.

LVIII - Guarda em teu coração aquilo que se sabe da Arte.

LIX - E se o suplício for tamanho que não possas suportar, então dirás:
“Confessarei porque não sou capaz de resistir a estes tratos”.

LX - Mas que pretendes dizer?

LXI - E se tentarem fazer com que fales sobre teus companheiros, não o faças.

LXII - Mas se tentarem fazer com que fales de coisas impossíveis, das que não são usuais entre bruxos, tal como voar com cabos de vassouras; ter pactos com demónios, desses em que crêem os cristãos; sacrifícios de crianças,

LXIII - sacrifício de Virgens e inocentes; ou insinuações de canibalismo; poluição e profanação de hóstias; missas negras que se rezam nos ventres das mulheres devassas; poços de urina onde se profanam as coisas santas; ungüentos de invisibilidade; secar os leites das vacas; fazer cair granizo; moverem-se objectos pesados; danças em Sabaths presididas por Satanás, que recebe no ânus o beijo dito infame; se por fim, indagarem destas coisas,

LXIV - Dirás para que tenhas alívio dos padecimentos que te inflijam:
“Sim! Acho que tive pesadelos; ou meu espírito foi arrancado; ou me parece que tive um momento de insanidade e loucura

LXV Na verdade algumas autoridades têm compaixão; e se houver pretexto, poderão até agir com misericórdia. Cautela com frades e fanáticos.

LXVI - Se disseres algo, porém, que te comprometa, ou a outros companheiros, não te esqueças de negá-lo depois, desmentindo tudo, para afirmar - durante os maus-tratos - que nem saibas do que falavas.

LXVII E se te condenarem, não tenhas cuidado.

LXVIII É que teus irmãos, dos Círculos dos adeptos, são gente de poder e te ajudarão a fugir, desde que não percas a firmeza nem desates a língua. Se contudo, te traíres, ou aos demais, já não te restará esperança de salvação, nem nesta vida nem na futura.

LXIX - Não te inquietes: se em tua firmeza te conduzirem à fogueira do suplício - para o desfrute dos cristãos e de seus demónios -, teus irmãos te ministrarão drogas suavizantes, e te haverá conforto, e nem sofrerás dores. Para a morte partirás tranquilo, e para o consolo do além, que é o êxtase nos braços da Deusa Suprema.

LXX E teu gozo não será o da CARNE, mas sim do ESPÍRITO, que é na sua purificação, e elevação, que os adeptos se dedicam as suas obras.

LXXI -Mas para evitar que sejas descoberto, teus instrumentos de Arte serão bem simples, como os que são encontrados nas casas comuns dos profanos; e entre eles não se dirá nada.

LXXII É bom que os pentáculos sejam feitos de cera, de modo que logo se rompam, e mais rápido sejam derretidos, como qualquer obra artesanal.

LXXIII Em tua casa não terás armas, nem espada, a menos que as permita tua hierarquia no Círculo.

LXXIV Em tua casa não gravarás símbolos, nem sinais, nem nomes que soem estranhamente. Nem em nada os escreverás.

LXXV Quando for necessário seu uso, então escreverás com tinta, o que tiveres de traças e escrever, no momento das consagrações; e passadas estas, com a obra terminada, tu apagarás tudo tão logo não seja necessário continuar escrito.

LXXVI Nos punhos das armas quando te forem permitidas, mostrarás quem és entre os adeptos, mas não o saberão os PROFANOS, nem os que te perseguem.

LXXVII Nelas não farás gravuras, nem inscrições, para que pelos símbolos não conheçam tua condição, que assim serias traído.

LXXVIII Não te esqueças nunca que és um dos filhos secretos da Deusa Suprema; assim não desgraçarás a ti, nem a teus irmãos, nem a entidade divina.

LXXIX Seja modesto; Não uses de AMEAÇAS; não digas jamais que desejarias a PERDA ALHEIA, ou que te seria possível CAUSAR DANO a alguém.

LXXX - E se por acaso alguém que não seja do Círculo dos adeptos, se referir à Arte, lhe dirás: “Não me fales dessas coisas, que elas me apavoram”.

LXXXI - E o motivo para que assim procedas é que os que se declaram cristãos costumam por espiões por toda parte. Eles se gostam da perda e danos alheios, e pretextam e protestam afecto. E muitos são fingidos por sentir afinidade com a Arte e desejar reverenciar os deuses antigos.

LXXXII - Muitas vezes os propósitos cristãos são maus. Aos tais se negue sempre o conhecimento das verdades ocultas.

LXXXIII - A outros interessados na Arte porém se dirá: “Falem aos homens que feiticeiras e bruxos que voam pelos ares cavalgando vassouras é pura estupidez. E para que isto fosse possível, haveriam de ter pelo menos a leveza dos flocos que a brisa sobre das árvores. E se diz que bruxas e bruxos são feios e vesgos; sempre velhos e feios. Que prazer terá alguém em estar nas suas assembleias ou Sabaths, segundo o personagem criado que estes profanos dizem existir?”

LXXXIV - E acrescente: “Os homens de bom senso sabem que tais criaturas não existem de verdade”.

LXXXV - Procura sempre ter como passageiras estas tais coisas; que algum dia hão de acabar as perseguições e a intolerância, quando voltaremos em segurança, a reverenciar os Deuses do passado.

LXXXVI- Oremos para que venham dias mais felizes.

LXXXVII - Que as bênçãos da Suprema Deusa e dos Deuses sejam com todos aqueles que respeitam estas Leis e obedecem aos mandamentos.
LXXXVIII - E se por acaso há alguma propriedade característica da Arte, seja ela mantida, cooperando todos a preservá-la em sua simplicidade e pureza, para bem de cada um dos adeptos.

LXXXIX - E se algum dinheiro ou valor do bem comum for confiado a qualquer um dos adeptos, que ele cuide de agir honestamente.

XC - E se algum dos irmãos do Círculo realizar de fato alguma tarefa, é justo que se lhe dê uma recompensa; porque não se trata aqui de receber pagamentos por obra da Arte, mas sim por recompensa de trabalho honrado.

XCI - Isto o permite a Lei, com boa-fé. E mesmo os que se dizem cristãos falam assim: “O jornaleiro é digno de seu salário”, e tais palavras estão em suas Escrituras. Entretanto, se algum dos irmãos quiser trabalhar, em algum serviço para o bem da Arte, e por amor que lhe tem, sem receber qualquer recompensa, a ele e a todos do Círculo lhes recaíram grande Honra. A Lei o permite, e o mais que se ordenou.

XCII - E havendo alguma disputa ou discussão entre os adeptos, rapidamente a Suma Sacerdotisa reunirá os mais antigos, ouvindo-se todos os fatos e partes, cada um por sua vez e ao final em conjunto.

XCIII - A seu tempo se decidirá com justiça, sem que o sem razão seja favorecido.

XCIV - Sempre se reconheceu existirem aqueles que não concordam em trabalhar sob ordens dos outros.

XCV - Mas ao mesmo tempo foi reconhecido que existem os que são incapazes de julgar com justiça, ou dirigir com boa-fé.

XCVI - E quanto aos que são incapazes de obedecer, mas só cismam de mandar e dirigir, eis o que se lhes dirá:

XCVII - “Não fiquem neste Círculo, ou estejam em outro, ou ainda saiam a organizar seu próprio Círculo, ou nele mandem, levando consigo os que os acompanhem

XC VIII - E os que forem inconciliáveis, estes se retirem.

XCIX- Eis que ninguém pode estar num mesmo círculo em que se apresentem aqueles com os quais não estejam em harmonia.

C - Os que discordem de seus irmãos não podem conviver com eles na prática da Arte, mas esta há de permanecer com a ausência dos mesmo, que tal é o nosso mandamento.

CI - Nos tempos antigos, quando éramos poderosos, nada impedia que usássemos da Arte contra todo que atentasse contra nossos irmãos e irmãs. Nestes dias, porém, quando impera o mal, não devemos agir desta sorte. Eis que nossos desafetos inventaram uma abismo onde arde o foto eterno, no qual, a seu dizer, seu próprio deus lança todos aqueles que o adoram, salvo uns muitos poucos eleitos, que são salvos por mediação de sacerdotes, por míeío de práticas, ritos, missas e sacramentos. E nisto tem muito peso o dinheiro, quando dado em abundância; e os favores dessa lei se pagam alto e caro, em ricas doações, porque a sua igreja é sempre sedenta e faminta de bens palpáveis.

CII - Nossos Deuses, porém, nada exigem, nada pedem, requerendo, ao invés, nosso auxílio, para que sejam abundantes as colheitas, e entre os homens e as mulheres haja fertilidade, e nada lhes falte; visto que manipulam o poder que levantamos na grande obra dos Círculos dos adeptos; e como os ajudamos, na mesma medida somos ajudados.

CIII - A igreja, contudo, dos que se dizem cristãos, carece da ajuda dos seus; para que a utilize, não para algum bem, mas para nosso mal; para descobrir-nos, perseguir-nos, destruir-nos; E suas ação não tem fim. E seus sacerdotes ousam afirmar-lhes que os que buscam nosso auxilio serão prejudicados eternamente no fogo do inferno. E isto de causar temor é que induz à loucura.

CIV - Tais sacerdotes acenam-lhes com uma oportunidade de salvação, fazendo-os crer que, alimentando-nos, escaparão eles a seu próprio inferno, como o chamam. Eis porque vivem todos os que se dizem dessa lei a espionar-nos, pensando em seu coração: “Basta-me apanhar um só desses bruxos, ou uma só dessas feiticeiras, para que me furte ao abismo do fogo eterno”.

CV - Assim, pois temos de nos refugiar em abrigo ocultas; e os que nos buscam, e não nos acham, usam dizer: “Já não os há; ou se algum existe, seu lugar não é aqui, ou bem remoto”.

CVI - Porém, quando vem a perecer algum dos que nos oprimem, seja por qualquer meio de morte ou até doenças; ou mesmo adoece, logo dizem: “Ora, trata-se de malícia dos tais bruxos”. Com isto tornam à caçada. E ainda quando matem dez ou mais dos legítimos por um só verdadeiro dos nossos, isto não nos preocupa. É que seu número se conta em muitos milhares.

CVII - Mas nós sabemos o quão poucos somos, e nossa Lei é nos rege.


CVIII - Por isto mesmo nenhum dos nossos recorrerá à Arte por VINGANÇA, nem para CAUSAR DANO a ninguém.

CIX - E por mais que nos maltratem, injuriem e ameacem, a nenhum se causará MAL. E nos dias que correm, inúmeros são os que descrêem em nossa existência. E isto é bom.

CX - Assim, portanto, estaremos sempre ajudados desta Lei, em nossas dificuldades; mas ninguém dos nossos - por maiores injustiças que possa vir a receber, usará os poderes em punição dos culpados, nem causará qualquer dano. Os adeptos poderão após consulta entre seus irmãos da Arte, recorrer a esta, conforme for determinado, para resguardo contra perseguições movidas pela igreja que nos injuria, não, porém, para levar castigo aos dessa que o mereçam.

CXI - Em tal fito, o injuriado assim dirá: “Eis que surge um perseguidor combatente, e investiga nossas ações, indo em perseguição de pobres anciãs, das que estão à vontade na Arte, ou disto suspeita; ninguém entretanto lhe fez mal por esta causa, e isto mostra realmente que elas não poderiam em nada ser feiticeiras, por não praticarem malícias; ou então, na verdade não existem, ou já não existem bruxos ou bruxas.

CXII - É fato notório que muitos têm sido mortos, porque alguém lhes tinha algum ressentimento; ou então foram perseguidos por se saber que possuíam dinheiro, ou outra forma de bens passíveis de seqüestro, e nem se contavam entre os adeptos; ou ainda, não dispunham de meios para subornar os agentes da perseguição. E muitas, ainda foram mortas por serem velhas rabugentas ou resmungonas. Na verdade se diz entre os que nos perseguem, que somente as velhas costumam ser bruxas.

CXIII - E isto coopera para nossa vantagem e proveito, desviando-se de nós a suspeita do que somos.

CXIV - Graças ao sigilo, muito tempo é passado, na Escócia, como em
Gales e na Inglaterra, sem que se tenha punido de morte algum adepto.
Entretanto, qualquer abuso de nossos poderes tornaria a causar as
perseguições obsessivas.

CXV - Dizemos aos nossos irmãos que não infrinjam a Lei, por maior que lhes seja a tentação de fazê-lo; e jamais permitam que haja infrações destas, a mínima que seja.

CXVI - E se alguns dos nossos vier a saber que se infringiu a Lei, breve será a sua reação contra esse risco.

CXVII - E qualquer Suma Sacerdotisa ou Sumo Sacerdote que possa concordar com essas infrações, é réu de culpa, e a retirada de seu posto será seu castigo; visto que seu consentimento implica risco de que o sangue de nossos irmãos seja derramado, e algum deles seja levado à morte pelos eclesiásticos da igreja que nos persegue.

CXVIII - Mas que se faça o bem, e com determinação e em segurança. CIX - Todos os membros dos nossos Círculos se mantenham no respeito da Lei, venerável e antiga.

CXX - E que nenhum dos nossos aceite, NUNCA, algum pagamento por serviços da Arte, pois o dinheiro é como mancha que marca aquele que o recebe. Na verdade é coisa muito sabida que somente os MALÉFICOS
- que praticam a Arte Negra, e conjuram os mortos - e os sacerdotes da igreja aceitem dinheiro pelo que fazem; e nada fazem sem que lhes haja bom pagamento. E vendem, ainda mesmo, o perdão das almas, para que os maus se furtem à punição dos pecados.

CXXI - Que nossos irmãos não sejam destes ou como eles. Se um dos adeptos aceitar dinheiro, ficará exposto às conseqüências por usar a Arte para a causa do mal. Mas se não o fizer, assim não será, certamente.

CXXII - Todos contudo podem utilizar a Arte em seu proveito e bem próprio, ou para a glória e bem da Arte, desde que haja certeza de que
NÃO CAUSAR MAL A NINGUÉM.

CXXIII - Que todas estas coisas antes, entretanto, sejam conselho entre os adeptos, em seu próprio Círculo. E as resoluções serão prudentes e
meditadas. Somente se usará a força da Arte havendo o acordo mútuo de opiniões de que ninguém sofrerá, ou de que não sobrevirá o mal.

CXXIV - Mas quando não houver maneira possível de se conseguir o pretendido segundo se determinou, será talvez possível que os mesmos fins sejam alcançados de outros modos, sem que haja dano, nem aos nossos, nem aos profanos. E que a maldição da Deusa Suprema seja sobre a cabeça de todo aquele que infringir esta nossa Lei. Este é o mandamento.

CXXV - E entre nos se considera justo e legal que, caso um dos adeptos possa estar precisando de casa ou moradia, ou terras, e ninguém queira vender-lhe, podem os adeptos usar a Arte para inclinar os corações e disposição de quem as possua, desde que não haja prejuízo sob qualquer forma, pagando-se sem maiores discussões o preço justo que for exigido.

CXXVI - Que nenhum dos nossos menospreze os valores que pretenda adquirir, nem venha a discutir, se comprando algo por persuasão da Arte. Este é o mandamento.

CXXVII - É velha lei, e a mais importante das nossas, que ninguém dentre os adeptos da Wicca venha a fazer coisa alguma a qual possa implicar PERIGO a seus irmãos na Arte; ou outro ato que os coloque ao alcance da lei comum da terra, ou à mercê de quaisquer perseguidores, civis ou eclesiásticos.

CXXVIII - E passada a rivalidade, o que é lamentável, entre os irmãos, nenhum deles pode invocar alguma lei senão aquelas da Arte.

CXXIX - Ou nenhuma jurisdição ou tribunal, salvo o da Sacerdotisa ou do Sacerdote, de seu Círculo, e também dos mais antigos entre os adeptos.

CXXX - E não se proíbe aos adeptos dizerem, como o fazem os da igreja:
“Há feitiços nesta terra”, visto que os nossos opressores de longe e há muito tempo, nos vêem como heréticos, por mostrar-nos descrentes às suas doutrinas.

CXXXI - Mas seja o vosso falar: “Ignoro que haja aqui algum bruxo; mas é fato que talvez isto seja verdade em lugares mais distantes; mas onde, não sei”.

CXXXII - Mas se deve falar deles, os bruxos e feiticeiras, como sendo uns velhos rabugentos, que têm pactos com os demônios dos cristãos, e se movem pelo ar em vassouras.

CXXXIII - E que se acrescente em todas essas ocasiões: “Entretanto, como lhes será possível moverem-se pelo ar, quando não se dão conta da leveza das penugens das plantas?”.

CXXXIV - Mas que a maldição da Suprema Deusa caia sobre todo o que lançar suspeitas sobre qualquer um de nossos irmãos.

CXXXV - E que assim seja, igualmente, com os que se referirem a um dos locais do encontro, e seja isto verdadeiro; ou onde morem os adeptos, e seja isto verdadeiro.

CXXXVI - E devem os Círculos da Arte manter livros com registro das plantas benéficas e todos os meios de cura, de forma que os adeptos possam aprendê-los.

CXXXVII - E que haja outro livro, para informações, inclusive dos auges astrais; e que somente os mais antigos e outras pessoas dignas de muita fé tenham conhecimento destas informações. Este é o mandamento.

CXXXVIII - E que as bênçãos dos Deuses e Deusas se cumulem sobre todos quantos guardarem ditas leis; e que a maldição dos Deuses e Deusas seja sobre a cabeça dos que porventura as venham a infringir.

CXXXIX - E seja lembrado ser a Arte sigilo dos Deuses e Deusas; sendo pois, usada em ocasiões graves; nunca por mera mostra de poder e de forma imprudente.

CXL - Os adeptos da magia negra e os que seguem os dizeres da igreja poderão importunar-vos, dizendo “Eis que não tens poder nenhum; mostra-nos se és capaz de algo. Faça uma magia diante de nós, que acreditaremos.”; mas, porém, pretendem que um dos nossos venha a trair a Arte perante seus olhos.

CXLI - Não daremos ouvidos a estes, pois a arte é sagrada, e aplica-se somente quando necessário. Sobre os infratores desta Lei, recairão as maldições da Suprema Deusa.

CXLII - Sempre foi de costume dos homens assim com das mulheres que buscassem novos amores; e isto não é causa de que sejam reprovados, assim como não é de louvação.

CXLIII - Mas esta prática pode constituir prejuízo à Arte.

CXLIV - E assim, pode ser que a Suma Sacerdotisa ou o Sumo
Sacerdote, por motivo de amor, siga os passos de quem lhe interessar.
Com isto ele ou ela deixará o Círculo que é de sua responsabilidade.

CXLV - E se alguma das Sumas Sacerdotisas desejar seu posto e estado por este amor, que o faça anunciando-o perante o Conselho.

CXLVI - Com tal renúncia, sua desistência tem valor entre todos os adeptos.

CXLVII - E se alguém de posição sacerdotal parte sem dizer de suas intenções, e sem renunciar, como se saberá passado algum tempo se retornará ao Círculo?

CXLVIII - Por estas causas se estabeleceu Lei, pela qual, se a Suma Sacerdotisa deixa o círculo de seus adeptos, sem renúncia, lhe é opcional o retorno, e tudo estará como era antes.

CXLIX - E enquanto estiver ausente, se há alguém que lhe preencha as funções, esta outra assim procederá, até que a Sacerdotisa regresse, ou enquanto esteja ausente.

CL - Mas se ela não voltar no tempo de um ano e mais um dia, ilegítimo ao Círculo dos adeptos, compactuados entre si, escolher por eleição uma nova Sacerdotisa.

CLI - Isto não se passa quando há justo e bom motivo para tanto.

CLII - Aquela que lhe fez o oficio colherá benefícios e será recompensada pelo seu trabalho, como assistente e substituta da Suma Sacerdotisa.

CLIII - Tem sido verificado que a prática da Arte estabelece vínculos de afeto entre os aspirantes e mestres; e quanto maior o afeto, tanto melhor será.

CLIV - Se entretanto por alguma causa isto for inconveniente, ou indesejável, isto se evitará facilmente, decidindo quem aprende e quem
ensina, desde o princípio, mantendo-se nas relações que vinculam irmãos e irmãs, ou pais e filhos, sem qualquer relação carnal.

CLV - O aspirante a adepto do Círculo da arte só pode ser instruído por mulher; e a postulante somente por homem; e eis que duas mulheres, ou mais, não devem praticar entre si, visto que a força vem de um sexo para outro; e igualmente dois homens ou mais não devem praticar a arte entre si - o que se opõe à Lei - e nisto vai abominação; e já dissemos a causa.

CLVI- É necessário que haja ordem e que a disciplina seja constante.

CLVII - À Suma Sacerdotisa ou ao Sumo Sacerdote é que cabe dar castigo aos que caem em falta e isto é seu direito.

CLVIII - Portanto, todos os do Círculo dos adeptos devem receber de boa-fé o castigo que mereçam; quando o mereçam.

CLIX - E assim, tomadas todas as providências cabíveis, deve o culpado postar-se de joelhos confessando falta para ouvir a sentença.

CLX - Mas ao amargo deve suceder o doce; e ao desagradável o ameno; após o castigo convém que haja alegria.

CLXI - O réu confesso reconhecerá que se fez justiça, como convinha, aceitando o castigo, e beijará a mão da Suma Sacerdotisa ao passar-lhe a sentença condenatória. E, além de tanto, agradecerá ainda que tenha sido castigado, pois isto sucede por seu bem e edificação. Esta é a Lei e seu mandamento.

CLXII - Por nossa prescrição final: que todos os adeptos guardem a Lei, segundo aqui foi escrita, e os mandamentos e ordenações da Arte essencial, venerável e antiga. Em suas mentes e corações guardem a Lei. Mas, em risco de morte, seu livro deve ser destruído, para que nada se prove, e nem haja risco maior a seus irmãos; nem venha ninguém a condenar-se por seu compromisso. Com isto se preservará em todas as condições e sob quaisquer circunstâncias, a tradição e o ensinamento da Deusa Suprema, conforme o Legado Antigo.

Ritual da Consagração das Armas Mágicas Menores

Por Apollonius Sohistes 1996 (Adaptado)


Material Necessário: Sal, água, incenso, vela e um fogo para o altar.

Procedimento:

*Prepare o altar
*Ter peças para serem consagradas no ou próximas do altar.
*Círculo projetado
*Sal e água consagrados (se não já feito como parte da projeção do círculo)

Para cada peça a ser consagrada, faça o seguinte:

Levante a peça e diga:
«Athena, Ouça!
Hephaistos, escute!
Eu os convoco e todos outros Deuses da Feitiçaria!
Eu dedico e consagro este anel (ou qualquer outra peça) a vocês.
Se alguma vez eu tiver preenchido meus votos e agradado vossos corações, agora limpem este anel (ou qualquer outra peça mágica) de todas tentações e todas corrupções.
Purifique isto para meu uso e para Vosso serviço. »

Medite sobre a peça, na sua história e construção, nos propósitos que tem para ela; mandando-lhe energia purificadora.

Aspirja a peça com sal (representando terra)

Aspirja ela com água consagrada (representando água)

Passe a peça pela fumaça do incenso (representando o ar)

Passe ela pelo ou sobre a vela ou o altar flamejante (representando o fogo)

Mantenha a peça para cima, apontada para cima, e comande:

«Eu te carrego pelos poderes das Deusas e dos Deuses, pelo Sol e Lua e Estrelas, pelo Fogo, Água e Ar, para servir às Deusas e Deuses por mim.
Eu te consagro pelos nomes:
Athenas!
Hephaístos!
Pelos nomes de todos Deuses e Deuses!
Que assim seja!»

Use a peça imediatamente ou mantenha com você por um dia todo.

Repita para cada peça.

Feche o círculo.

Nota:

Outros deuses além de Athena e Hephaistos podem ser invocados, desde que apropriado para a peça.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Mitologia - Ningal e Nana

NINGAL E NANA

Como a Deusa dos Sonhos encontrou o Senhor da Lua

O culto de Ningal e Nana era comum durante a Terceira Dinastia de Ur.
Mito que contém uma lição de moral para jovens enamorados: a sexualidade deve ser praticada em termos ideais dentro do contexto do matrimonio.
Um dos aspectos mais interessantes da Mesopotâmia é que apesar de ser permitida alguma liberdade para os jovens se encontrarem antes do casamento, ‘ não existe promiscuidade ou adultério entre os casais de deuses e deusas formadores do panteon mesopotâmico, ao contrário do que ocorre na literatura grega’ (Leick, 1994:35).
Ningal aqui é chamada de Deusa da Interpretação dos Sonhos, conforme Leick (1991).


Quando Nana, o Deus da Lua, o primogénito de Enlil e Ninlil, Deus e deusa do Ar, apareceu nos céus, o jovem Deus que era a Tocha brilhante de seu avô Anu, o Deus do Firmamento, ao se renovar e iluminar a luz difusa dos primeiros tempos da criação, trouxe consigo o Tempo, a medida cósmica que permite a contemplação da Eternidade através dos pequenos e grandes acontecimentos que dão significado às nossas vidas.
Pois à medida em que Nana se movia pelos céus da noite, mudando de brilho crescente a decrescente, para crescer e decrescer de novo, as portas do céu se abriam para deixar passar dias e noites, meses e anos.
E maravilha das maravilhas, a passagem de Nana fazia com que a vida entrasse em perfeita sincronia com o seu brilho de prata: as marés, a ida e vinda das enchentes da Primavera para renovar a fertilidade da terra, o crescimento dos juncos, o respirar das plantas, a abundância de leite, queijo e creme dos rebanhos, e mais do que tudo, no sangue sagrado de todas as mulheres.
Portanto, Nana, a Lua era ao mesmo tempo jovem e velho, trazendo descanso para a terra e os seres vivos, sonhos e todas as fantasias.
Amado por muitos, igualmente temido por outros tantos, o brilho da lua fazia tudo igualmente próximo e longínquo, tão perto e ao mesmo misteriosamente remoto.
Sua era uma estranheza tanto íntima quanto assustadora, pois a chegada de Nana trazia doces sonhos ou fantasias esquisitas durante o sono.
Mas se se quisesse ficar acordado e fazer companhia ao Senhor da Lua ao longo das horas pequenas da noite, Nana também concedia vigilância e iluminação para o estudante diligente dos mistérios da alma.
Uma destas estudantes era uma jovem deusa Anunaki chamada Ningal.
A jovem Ningal vivia na região dos pântanos, nas proximidades da antiga povoação de Eridu. Ningal era a filha adorada de Ningikuga, a Deusa dos Juncos e de Enki, o Deus das águas doces, da mágica e das artes.
Esbelta, de longos cabelos negros e olhos mais escuros do que noite sem luar, Ningal era quieta apenas na aparência.
Dentro, ela era dona de uma intensidade profunda e sensual, bem como tinha o dom de revelar a linguagem do desconhecido contida em imagens, lendas antigas, na poesia e, mais do que tudo, em sonhos.
Ela era naturalmente espontânea mas reservada.
Interpretar sonhos, saber a linguagem de imagens lindas e bizarras, não era um dom fácil de se ter ou compartilhar.
Por quê, pode-se muito bem perguntar?
Simplesmente porque sonhos expressam em imagens o tecer interior da vida através de símbolos, assim como também mostram o reverso secreto que o exterior de nossas vidas tenta esconder ou não quer ver.
Ningal havia aprendido, muitas vezes da forma mais difícil, que para achar o verdadeiro significado de um sonho, era necessário manter o equilíbrio entre as imagens exteriores que ela recebia, e daí levar em consideração três pontos importantes.
Primeiro, era preciso saber se estas imagens eram parte da Memória da Terra desde o inicio dos tempos ou não.
Segundo, era necessário ver se as imagens recebidas faziam parte do conhecido ou do desconhecido para ela, e terceiro, tentar entender a linguagem cifrada das imagens do sonho, para poder encontrar dentro delas as pistas para cura e compleitudo contidas nos sonhos grandes e pequenos.
Sonhos eram professores exigentes e caprichosos: o conhecimento obtido através da interpretação deles trazia tanto riso quanto lágrimas, quando o entendimento subia às maiores alturas ou descia às profundezas como estrela cadente.
No fundo, porém, Ningal sabia que apesar das lágrimas, ela não suportaria não saber, ou ignorar a essência da vida. E que talvez sabedoria para ela quisesse dizer o sorriso além das lágrimas. Desde que Ningal podia se lembrar, no mundo mágico dos pântanos, onde ilhas surgem das águas do azul mais profundo margeadas por palmeiras, ela seguia a progressão de Nana pelos céus da noite.
Uma sensação de maravilha, assombro e mistério tomava conta de Ningal sempre ela via o brilho da lua reflectido nas águas e sentia todo impacto da passagem do Senhor do Brilho de Prata no seu corpo, nas suas mudanças de humor, dentro da alma.
Mãe Ningikuga balançava a cabeça, mas nada dizia.
Ela, a sábia Deusa dos Juncos, a Soberana dos Pântanos, a grande amiga de Enki e diligente Tecelã que ensinou à humanidade a arte de tecer juncos para a construção dos primeiros templos e casas construídos pelo homem na Mesopotâmia, sabia o que a timidez natural da donzela ainda não podia revelar.
Ningal tinha-se apaixonado por Nana.
Ningikuga, portanto, apenas cuidava de Ningal, respeitava o silêncio da donzela.
Logo, tinha certeza, Ningal iria amadurecer como deusa e donzela da Casa Sagrada dos Anunaki. Então ela saberia escolher o desejado de seu coração, cantar para ele uma canção de noiva.
As Canções de Noiva falavam a respeito do desejo da donzela pelo amado, seu desejo de ir ao seu encontro, e da antecipação do prazer sexual compartilhado no Rito do Casamento Sagrado. Ningikuga sabia que logo Ningal iria amadurecer como mulher.
Então ela iria saber quem escolher, e anunciaria a escolha de seu coração numa canção de amor para o amado.
Este jovem seria Nana, porém?
A Lua teve de completar outro ciclo ao longo das estações até que finalmente Ningal encontrasse a sua voz para se dirigir ao amado pela primeira vez.
Então, uma noite, quando Nana apareceu nos céus anunciando o começo da primavera, Ningal sentiu finalmente que podia cantar para Nana a canção do seu coração, o desejo do seu corpo e o anseio da sua alma.
Será que ele iria aceitá-la?
Ningal não tinha certeza, mas com surpresa e alegria percebeu que ela esperava, mas não sofria, por Nana.

"Conhecendo Sonhos como conheço," ela constatou simplesmente para si mesma," apesar de esperar que Nana seja realmente o profundo desejo da minha alma, será que ele vai ser também a delícia do meu dia-a-dia, o meu Companheiro dos Mistérios da Vida?
Mas sem antes encontrá-lo, como poderei saber se ele é realmente o Amado, e não um Potencial Não Realizado?"

No fundo, Ningal sabia, porém, que como o leão queria apenas a sua aveludada e feroz fêmea, como o tigre só se deita com a sua tigresa, ela sonhava fazer dos braços de Nana o seu ninho, se ele se rendesse às suas carícias.
Pois então ela cantou:

- Salve, Nana, é Ningal que chama /
Salve, Nana, da noite o esplendor! /
Bem-vindo seja, ao mundo em que eu vivo /
Oh sonho mais querido, desejo abrasador. /
Vem para mim, pois quero te encontrar. /
Te conhecer, para saber te amar. /
Será você o senhor do meu desejo? /
Grande abraço pra meu beijo? /
O meu grande amor?

Naquela noite, no começo da primavera, Nana olhou para a região dos pântanos, pois havia escutado uma canção, a canção de Ningal.
O Deus da Lua ouviu a voz da donzela, viu a face de Ningal voltada para os céus, sorrindo para ele.
Nana estremeceu, pois em Ningal ele reconhecia a delícia de um Sonho profundo tornado realidade.
Pois tanto quanto ele podia-se lembrar, uma donzela tinha sido a Companheira Silenciosa das suas jornadas nocturnas, sempre retornando para cativá-lo a cada noite, no decorrer de todas as estações.
Os olhos dela, escuros e enigmáticos, sua beleza a um tempo cultivada, vivaz e silvestre tinha atraído o interesse do filho de Enlil e príncipe dos jovens deuses, desafiando-o com perguntas silenciosas e promessas mil, mesmo sem falar.
Nana viu Ningal e amou-a mais do que qualquer outra.
Desejo tão grande pela jovem deusa sentiu o Deus da Lua que imediata e impetuosamente ele desceu dos céus para ir encontrá-la na terra e lhe perguntar:

- Ningal, companheira silenciosa da minha alma que vagueia pelo espaço, as horas da noite estão chegando ao fim, e logo terei de desaparecer, para voltar apenas na noite que vêm.
Mas antes de te deixar, eu suplico que ouça o mais humilde e cortês pedido daquele que apenas ser teu melhor amigo, dos amantes, o mais querido.
Senhora do meu coração, espelho da minha alma, agora que te encontrei, meu sangue canta, meu coração bate, minha cabeça se enche de imagens maravilhosas, todas vindas de ti!
Mal posso esperar para ter-te em meus braços e compartilhar contigo todas as delícias de nossos corpos!
Portanto, Ningal, se me amares de verdade, tanto quanto eu sinto que te amo, eu te suplico que venha até mim amanhã na lagoa, próxima aos Grandes Pântanos.
Oh, senhora do meu coração, não tenha medo da escuridão, pois minha luz irá te guiar.
Nada e ninguém irá te causar tristeza ou dor, mas para assegurar a tua salvaguarda, corta alguns juncos e usa-os para abrir teus caminhos até mim.
Eu trarei ovos de pássaros para comermos, nós beberemos das águas límpidas da lagoa.
Oh, minha doce senhora, por que esperar pelo tempo certo para nos encontrarmos em público num dos próximos eventos, por que esperar tanto pelos ritos do casamento?
Amada, vem para mim, mas em segredo, para não causarmos transtornos as nossas famílias, para os mais velhos deuses e deusas desta terra, que querem os costumes sagrados seguidos ã risca, em todos os momentos!
Se realmente me amares, Ningal, como eu estou te amando, vem amanhã me encontrar, e faremos nossos melhores sonhos verdade pela primeira de muitas outras vezes!

Tomada de surpresa, mas cheia de alegria, Ningal não pensou duas vezes:

- Como tu vieste hoje até mim, adorado, com certeza amanhã irei até ti.
Tu és realmente o desejo do meu coração: não posso fugir ou recusar teu convite.
Oh, meu doce senhor, tenho sonhado contigo por tanto tempo!
Por que então devo eu, ou devemos nós esperar pelo tempo certo para nos encontrarmos, aguardar a demora dos ritos do casamento, ao invés de termos para nos dois, já, estes momentos?
Confiante na forca de ser muito amada, Ningal fez exactamente o que Nana tinha-lhe pedido, nada contando a Ningikuga sobre seu encontro com o Deus da Lua, e o outro, a caminho. Realmente, Nana tinha razão. De outra forma, levaria muito mais tempo para ambos se encontrarem, sem a companhia de amigos, irmãos ou de ambas as famílias.
De acordo com os ritos antigos, não somente o jovem casal deveria se amar, mas também ambas as famílias deveriam se dar bem.
Para encontrar Nana, Ningal passou o dia na mais alegre expectativa, fazendo cuidadosos preparativos.
Para ele, ela se banhou; para ele, ela passou óleos caros no corpo; para dar-lhe o prazer de vê-la bonita, Ningal vestiu-se com suas melhores roupas e adornos.
Intrigada, os olhos de Ningikuga seguiram os preparativos cuidadosos de Ningal.
Ningikuga ergueu uma sobrancelha inquisidora, abriu a boca uma ou duas vezes para fazer algumas perguntas, mas calou-se, resolvendo não dizer palavra alguma, não tecer qualquer comentário ate’ ser mais esclarecida sobre o que estava acontecendo com Ningal.

‘ Mamãe está me observando com tanta atenção, será que ela sabe de alguma coisa, percebeu que algo mudou?’
Perguntou-se Ningal.
‘ Talvez ela tenha percebido, mas não lhe direi nada por ora.
Mamãe e’ tão correta, gosta das coisas tão organizadas e duradouras, que se eu lhe falar alguma coisa sobre Nana, ela certamente não me deixará ir até’ ele hoje à noite.
Ou amanhã ou depois de amanhã, se não seguirmos ao pé da letra os costumes sagrados.
Isto quer dizer simplesmente que eu só poderei encontrar o meu amor no próximo grande festival, que esta’ a semanas de distancia!
Mil desculpas, mamãe, mas desta vez eu terei a palavra final sobre esta questão!

Naquela noite, quando deixou a casa de juncos , Nigal brilhava tanto quanto a lua cheia. Igualmente tão lindo quanto ela, o Deus da Lua veio em seu maior fulgor, e com todo respeito, carinho e maior das cortesias, tal qual o príncipe herdeiro dos grandes deuses ao cortejar a alta sacerdotisa antes do casamento sagrado.
Eles se encontraram em segredo, mas amaram à luz das estrelas, a céu aberto, muitas e muitas vezes ao longo de toda aquela noite e mais.
Pois noite após noite, durante aquela quinzena, até o dia em que Nana deveria partir para iluminar o Mundo Subterrâneo, o Deus da Lua e a Deusa da Interpretação dos Sonhos se encontraram para se amar.
Finalmente, veio a última noite antes do retorno de Nana para iluminar as Grandes Profundezas.
Após festejarem com alegria e reverência sua paixão, nos momentos depois do prazer compartilhado, Nana beijou Ningal e sussurrou nos cabelos dela o reconhecimento de um grande anseio que ele finalmente admitia para si e para ela:

- Case comigo, Ningal, Tocha que brilha dentro de mim, luz que sempre iluminou a minha hora mais escura.
Alegria imensa encheu o coração de Ningal, mas o brilho de Nana estava rapidamente desaparecendo do Mundo Físico.
Ningal sabia, porém, que ele estava brilhando mais do que nunca nas profundezas do Mundo Subterrâneo, dentro do seu coração, em cada célula de seu corpo e principalmente, dentro da sua alma.

- Na tua volta, adorado, ela respondeu, falaremos neste assunto.

Mas em todos os mundos, nas Esferas Superiores, no Mundo Subterrâneo, no Mundo Físico, os grandes deuses, que tudo sabem, viram o pacto de amor secreto de Nana e Ningal.
Eles, os Senhores do Equilíbrio de Todos os Mundos, aprovaram com alegria a escolha dos jovens amantes, mas ficaram intrigados pelo interesse deles em deixar em segredo uma felicidade que não deveria ser escondida.
Havia também a impetuosidade de Nana por ter seduzido Ningal, convidando-a para encontra-lo nos pântanos, sem pedir licença para os pais dela ou mesmo comunicar tal intenção aos seus.
De alguma forma o entusiasmo de Nana tinha de ser contido, pois ele deveria antes de mais nada fazer suas intenções a respeito de Ningal claras e honradas não apenas para ela, mas para todos os Anunaki.

Os grandes deuses, os Anunaki, eram os guardiões da terra, os patronos da ordem e do equilíbrio, a sustentação moral e espiritual para todos os seres vivos.
E o amor, sendo a Forca e Alegria da Vida, forma a Base da civilização, tendo portanto de ser protegido e atenciosamente preservado em todos os mundos.
Juventude não constituía uma desculpa para irresponsabilidade no amor.
Então desta vez as trevas da noite duraram mais tempo, pois nuvens encheram os céus, escondendo o brilho da Lua Nova de Nana.
Teria sido esta talvez a forma que os grandes deuses escolheram para fazer o impetuoso Nana revelar a todos o seu amor por Ningal?
Na região dos pântanos, Ningal olhava impacientemente para os céus da noite, mas manteve silencio sobre o desejo do seu coração.
Ela sabia que Nana estava lá fora, alem das nuvens pesadas e escuras, e exerceu paciência para esperar pelo seu retorno.
Uma primeira, uma segunda e uma terceira noite sem luar se sucederam desde a Lua Nova. Nana, encoberto por nuvens densas e escuras, não podia ser visto em nenhum ponto dos céus.

'Amado, quando outra vez?’ começou a se perguntar Ningal, dúvidas entrando no seu coração. Difícil ainda mais era ter de guardar o silencio só para si, não poder dividir suas preocupações com a mãe, que provavelmente teria algo para sugerir, ou dizer-lhe o que fazer para ver Nana mais uma vez.
Foi então que um forasteiro, trajando uma longa capa com um grande capuz, chegou à casa de juncos de Ningikuga e Ningal.
Quando o estranho cruzou o limiar do portal da casa, saudando a donzela e sua mãe com a cortesia de um príncipe, como se ele mesmo fosse o filho de um dos grandes deuses, Ningal, com a intuição aguçada de amante, reconheceu o forasteiro por quem ele realmente era: Nana em disfarce.
Seu coração deu um salto de alegria, cheio de antecipação, mas por causa do pacto de segredo por eles jurado, Ningal nada disse, esperando o desenrolar dos acontecimentos.
Depois de ter-se alimentado e bebido, o viajante enumerou a Ningal e Ningikuga todos os produtos deliciosos que ele diligentemente havia reservado para a querida de seu coração, caso ela fosse encontrá-lo mais tarde aquela noite na região dos lagos.
Ningal sentiu o calor subir ao rosto, e imediatamente seus olhos voaram para a face de, Ningikuga, que levantou uma sobrancelha interessada e começou a bombardear o viajante com perguntas sobre a sua jovem amada, se os pais de ambos já tinham combinado o enlace, se os presentes correctos já haviam sido trocados entre as famílias, enfim, perguntas sobre todos os detalhes que antecediam ao Casamento Sagrado dos jovens da Casa dos Anunaki.

‘ Será que estou vendo bem, mas mamãe, sempre tão reservada com estranhos, hoje tem olhos risonhos e está toda falante com o estranho?
Ningal se perguntou, entre curiosa e alarmada.
‘O jeito que mamãe olha para ele, as perguntas que está fazendo a um forasteiro a quem ela nunca viu.....’

De repente, Ningal compreendeu tudo e seu rosto ficou ainda mais vermelho.
Nada que acontece em todos os mundos não poderia ocorrer sem ser sabido pelos grandes deuses.
Eles simplesmente tinham descoberto que ela e Nana haviam se encontrado para se amar.

‘ Oh, Nana, nós somos uns bobos,’ ela se deu conta.
‘ Mas eu não irei mais para os pântanos ao teu encontro e esconder o que não pode e não tem razão de ser escondido.
Desta vez, eu darei as cartas na nossa relação!’

Em voz alta, ela disse ao forasteiro, tendo encontrado uma nova força no amor que sentia por Nana, no seu poder de donzela e deusa ciente do seu poder de mulher, na confiança que tinha no ela e Nana poderiam construir juntos:

- Mesmo se o senhor fosse Nana, o deus da Lua, o escolhido do meu coração e companheiro da minha alma, eu não iria ter consigo mais tarde, hoje à noite.
Não até que Nana houvesse enchido os rios com as enchentes da primavera para assegurar a fertilidade da terra, não antes que ele tenha feito os grãos crescerem nos campos, que faça mais peixes nadarem nas águas das lagoas, ou cuide para que junco novo cresça nas margens dos rios, para que os animais da floresta, as plantas das áreas secas e vinho e mel sejam cultivados nos pomares dos palácios e nas terras deste povo.
Então e apenas então, quando o Príncipe da Noite tiver provado que quer ser meu grande amor e protetor da agricultura e pecuária desta terra, no tempo e na estação certos, tendo cumprido os ritos sagrados, somente então eu deixarei os pântanos pelo palácio real de Ur.
Só então ele e eu estaremos prontos para partilhar do trono e do leito da realeza, para sermos ambos Soberanos e Protetores daquela grande cidade e de toda esta terra.

Um silencio carregado de eletricidade seguiu as palavras de Ningal.
Como a atenção da donzela estava totalmente no Estranho, Ningal não viu o sorriso de aprovação que brilhou como um facho de luz na face de Ningikuga ou a sobrancelha que a Deusa dos Juncos ergueu na direção de Nana.
Como será que o impetuoso Senhor da Lua iria reagir as palavras de Ningal?
Nana recuperou-se da surpresa, riu e fez uma graciosa e profunda reverência para as duas deusas, dirigindo-se primeiro a Ningal:

- Que o seu amado tenha prestado atenção às suas palavras sábias, gentil donzela, a primeira e única na alma do Deus da Lua.
Você é realmente a futura Grande Deusa de Ur, consorte e esposa de Nana, a Tocha da Noite. Ele dirigiu-se então para Ningikuga:

- Os meus sinceros agradecimentos, Grande Senhora, pela hospitalidade, e peco-lhe humildemente desculpas por qualquer dano que minha impulsividade tenha causado.

A compostura, humor e alegria de Ningikuga davam gosto de se ver.

- Todos os filhos e filhas da casa sagrada dos Anunaki são também meus filhos e filhas, ela respondeu com grande gentileza.
Eu lhe desejo muita sorte, Estranho, na corte da sua Amada.
Com a experiência e o amor de mãe, eu lhe recomendo, jovem senhor, amá-la profundamente, tratá-la como sua consorte e rainha.
E quando chegar o momento adequado, conforme os ritos e costumes sagrados, não se esqueçam os DOIS de me participar do evento, de me enviar um convite para este tão lindo e esperado evento!

Dois rostos jovens mostraram tanta alegria quanto embaraço.
Mas Ningikuga não se deu por achada, continuando firme na representação do papel de nada saber (afinal, ela não havia sido informada de nada,..), e em grande estilo, retirou-se para os seus aposentos, deixando toda a privacidade para Nana e Ningal.
Foi assim que a Deusa dos Sonhos prendeu pelo amor a impetuosa Tocha da Noite.
Eles se casaram em Ur, ao final da primavera, quando os primeiros frutos e laticínios da terra estavam prontos para serem levados às mesas.
Não mais sozinho, o Deus da Lua e sua adorada esposa tomaram um barco rumo a Nipur, para visitar Enlil e Ninlil, os pais de Nana.
O Deus da Lua e Ningal carregaram o barco com as primeiras frutas da estação e os primeiros produtos do leite e dos rebanhos do ano.
A cada porto ao longo do caminho até Nipur, Nana e Ningal deram e receberam presentes dos guardiões das cidades visitadas.
Mas o maior presente de todos Nana recebeu da Senhora de seus sonhos:

- Nana, tocha maravilhosa que ilumina a minha vida, disse-lhe Ningal, dentro de mim carrego agora tuas sementes, nossos filhos da luz.
Primeiro, darei à luz a uma menina.
Ela terá o nome de Inana, a Primogênita do Deus da Lua, a Estrela Matutina e Vespertina, que será a grande Deusa do Amor e da Guerra, Amante e Amada unidos numa só alma.
Sábia, apaixonada, sensual, vibrante, tudo isto e muito mais ela o será, a personificação do Amor, tanto espiritual, como físico e mental, ela será a Luz Interior que trará brilho, paixão, cura e compleitude a tudo e a todos em todos os mundos e esferas.
E para dar a nossa filha um irmão, que ele seja uma criança de igual brilho exterior.
Chamá-lo-ei de Utu, o Sol, Luz do Dia, que ira iluminar todos os mundos enquanto tu, meu amor, estiveres ausente.
Que todos portanto saibam que o Senhor da Luz de Prata que brilha na noite e a Deusa dos Sonhos, sua grande amada, darão ao mundo as estrelas celestes mais brilhantes para dar alma nova as vidas de todos os grandes deuses e da humanidade!
E tendo assim declarado, que seja feito segundo a minha vontade!


http://www.angelfire.com/me/babiloniabrasil/nannin.html

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Entrando em contacto com as Fadas


Está na Natureza a essência de todas as crenças e religiões.
O primeiro passo para vivenciarmos o "Divino" está em observarmos a Natureza e nos unirmos à beleza de sua Criação.
A simples caminhada em parques que possuam muito verde, já nos dará sábios ensinamentos. Se tiver oportunidade, sente-se no topo de uma colina e contemple os campos e bosques
Deixe então sua mente voar livre para um outro tempo, imaginando como deveria ter sido este local há milhões de anos atrás.
Tais pensamentos farão despertar sua memória ancestral genética que lhe foi transmitida e que agora está disponível e reverente.
Lembre-se que você é descendente directo de um antigo pagão que já sabia o que deseja saber agora.
Se você possui um lindo jardim, considere-se uma pessoa com muita sorte, pois poderá realizar esta viagem astral no meio dele.
Caso você more em apartamento, um planta qualquer que dê flores, poderá lhe ajudar a se conectar com os ciclos da vida da Natureza.
O pequeno acto de cuidar de uma plantinha ou de seu jardim já é capaz de gerar uma vibração em sua aura que pode ser detectada pelas formas de vidas silvestres.
Através desta vibração, sua presença é percebida e as fadas por certo não ficarão indiferentes, pois elas são entidades mágicas envolvidas com a força vital das plantas e dos animais.
Ao criar um elo mental com esse conceito através da emersão nos ciclos vitais da Natureza (e de suas caminhadas pelos parques), fica mais fácil alinhar-se com os espíritos da Natureza.
Acreditar nas fadas e nos espíritos da Natureza é parte integrante da consciência mágica de todo o pagão.
Isso fortalece as forças que mantêm e direccionam a sincronicidade em nossas vidas.
Não somos viajantes sós, pois sempre temos ao nosso lado um guia espiritual, ou espíritos de familiares e um grande número de espíritos da Natureza.
Através deles nos ligamos à própria fonte dos mistérios, nos ligamos a outros Mundos e outros Seres.
Nos ligamos à Fonte Primordial, que é aquela que nos gerou e para a qual um dia retornaremos.

Texto pesquisado e desenvolvido por Rosane Volpatto

Fadas

Crê-se que a figura da fada é uma reminiscência da antiga Deusa e algumas fadas eram chamadas pelo povo de "rainhas", "senhoras", "deusas", "avós" e "destinos" e deste último sentido talvez derive o seu nome fadas, do latim fata.
Os seus poderes, tal como os das divindades, eram imensos, incluindo a capacidade de transformar seres humanos em qualquer objecto.
Tinham uma aparência humana mas eram feitas de um material volátil que lhes permitia materializar e imaterializar livremente em qualquer forma na natureza que desejassem. Na tradição medieval, as fadas eram consideradas mulheres de aparência absolutamente normal que tinham capacidades mágicas e sobrenaturais.
As fadas eram também associadas à Lua e dizia-se que seguiam as antigas religiões pagãs do culto da Deusa.
Estas fadas eram consideradas feiticeiras cujo país tinha existência real e se situava, por vezes, em ilhas distantes, como a mítica Avalon e as ilhas Afortunadas ou, ainda, num local situado entre o Inferno e o Paraíso.
Alguns povos acreditavam que as tumbas antigas eram portas para o reino das Fadas, um mundo de fantasmas e espíritos temido pelos humanos.
A sabedoria das fadas era algo inquestionável e as pessoas na Idade Média pediam a sua protecção e agradeciam-lhes com oferendas várias, inclusive comida e bebida que deixavam em locais especiais.
A Igreja definiu por fim que as fadas não eram almas penadas e portanto só poderiam ser espíritos que, como estavam longe do seu domínio, só poderiam ser maus.
Assim, as fadas tornaram-se nos "bodes expiatórios" de todos os males, fossem a doença de animais ou de pessoas que, quando inexplicáveis à luz dos conhecimentos da época, eram considerados "possuídos" pelas fadas.
Algumas crianças com atrasos mentais eram deixadas pelos pais com a justificação de que tinham sido trocadas pelas fadas.
Mais tarde, as fadas deixaram de estar presentes como fazendo parte da realidade e passaram a habitar o mundo infantil através dos contos de fadas, como seres bons e protectores.
Em Portugal, a figura da fada foi muitas vezes associada à personagem da moura encantada que premiava a coragem e a lealdade com riquezas, para além de proteger os apaixonados.
A origem da versão moderna da fada foi popularizada através dos contos de Charles Perrault, a partir do século XVII.

Mestra da magia, a fada simboliza os poderes paranormais do espírito ou as capacidades mágicas da imaginação.
A fada realiza as mais extraordinárias transformações e, num instante, satisfaz ou rejeita os desejos mais ambiciosos.
Talvez ela represente o poder do homem de construir com a imaginação os projectos que não pôde realizar.

A fada irlandesa é, por essência, a banshee, de quem as fadas de outros países célticos não são mais do que equivalentes mais ou menos alterados ou semelhantes.
À partida, a fada, que se confunde com uma mulher, é uma mensageira do Outro Mundo.
Muitas vezes viaja sob a forma de ave, de preferência de cisne.
Mas esta qualidade não pôde continuar a ser compreendida a partir da cristianização, e os transcritos fizeram dela a figura de uma enamorada que vinha à procura do eleito do seu coração.
A banshee é, por definição, um ser dotado de magia.
Não está submetida às contingências das três dimensões, e a maçã, ou o ramo, que ela entrega tem qualidades maravilhosas.
O mais poderoso dos druidas não consegue reter aquele que ela chama e, quando ela se afasta provisoriamente, o eleito fica prostrado.

Shakespeare mostrou maravilhosamente, com a rainha Mab, a ambivalência da fada, que é capaz de se transformar em feiticeira:

Oh, vejo, pois, que a rainha Mab vos visitou.
Ela é a parteira das fadas, e quando aparece
A sua forma não é maior que uma pedra de ágata
No indicador de um almotacé
Puxada por um conjunto de pequenos átomos…
… é sempre esta mesma Mab
Que entrança a crina dos cavalos à noite
E com os seus cabelos viscosos
Fabrica nós mágicos
Que, desembaraçados, trazem grandes infortúnios.
É a feiticeira…


(Romeu e Julieta, Acto I, Cena 4)

Com efeito, os palácios que as fadas evocam e fazem cintilar na noite desaparecem num instante e não deixam senão a lembrança de uma ilusão.
Situam-se, na evolução psíquica, entre os processos de adaptação ao real e da aceitação de si, com os seus limites pessoais.
É costume recorrer às fadas e às suas ambições desmedidas.
Ou então elas compensam as aspirações frustradas.
A varinha e o anel são as insígnias do seu poder.
Elas apertam ou soltam os nós do psiquismo.

Parece fora de discussão as fadas do nosso folclore não serem senão, na sua origem, as Parcas romanas, elas próprias transposição latina das Meras gregas.
O seu próprio nome – Fata, Fado ou Destinos – prova isso.
Ainda hoje têm este nome na maioria das línguas latinas, e a sua raiz pode ser encontrada na sua descendência e nos inumeráveis pequenos génios que a imaginação popular, na sua sequência, criou: como, por exemplo, as fadas provençais, as fades da Gasconha, as fadettes e fayettes, as fadets e farfadets.
Geralmente reunidos em grupo de três, as fadas puxam do fuso o fio do destino humano, enrolam-no na roca e cortam-no, ao chegar a hora, com as suas tesouras.
Talvez na origem elas fossem as deusas protectoras dos campos.
O ritmo ternário, que caracteriza as suas actividades, é o da própria vida: juventude, maturidade, velhice, ou então, nascimento, vida e morte, que a astrologia transformará em evolução, culminação, involução.
Segundo as velhas tradições bretãs, por altura do nascimento de uma criança, preparam-se três talheres numa mesa bem provida, mas numa divisão isolada da casa, para que as fadas se dignem ser propícias.
São elas também que conduzem ao céu as almas das crianças nado-mortas e que ajudam a romper os malefícios de Satã.
Para melhor se compreender o simbolismo das fadas, é preciso ir além das Parcas e Meras, e ir até às Queres, divindades infernais da mitologia grega, espécie de Valquírias que se apoderam dos moribundos no campo de batalha, mas que, segundo a Ilíada, parecem também determinar a sorte e o destino do herói, ao qual elas aparecem apresentando-lhe uma escolha, de que dependerá o final benéfico ou maléfico da sua viagem.

A filiação das fadas, tal como acabamos de indicar, mostra que elas são, originalmente, expressões da Terra-Mãe.
Mas, ao longo da história, foram subindo pouco a pouco do fundo da terra até à superfície, onde, na claridade do luar, elas se tornam espíritos das águas e da vegetação.
No entanto, os lugares das suas epifanias mostram claramente as suas origens; com efeito, elas aparecem quase sempre nas montanhas, perto de fendas e de torrentes, nas inumeráveis mesas de fada ou nas profundezas das florestas, à beira de uma gruta, de um abismo, de uma chaminé das fadas, ou ainda perto de um rio bramante ou à beira de uma nascente ou de uma fonte. Estão associadas ao ritmo ternário, mas, se as observarmos de mais perto, elas demonstram ter também um ritmo quaternário: na música, dir-se-ia que o seu compasso é o três por quatro; três tempos marcados e um tempo de silêncio.
O que representa, de facto, o ritmo lunar e o ritmo das estações.
A Lua é visível durante três fases sobre quatro; na quarta fase, ela torna-se invisível, diz-se até que ela está morta.
Da mesma forma, a vida representada pela vegetação nasce da terra na Primavera, desaparece durante o Inverno, tempo de silêncio, de morte.
Se olharmos mais de perto contos e lendas relacionados com as fadas, vê-se que este quarto tempo das fadas não foi esquecido pelos autores anónimos destas narrativas.
É o tempo de ruptura, em que a epifania antropomorfa da fada se dissipa.
A fada participa do sobrenatural, porque a sua vida é contínua, e não descontínua como a nossa, e como a de todas as coisas vivas deste mundo.
Portanto, é normal que na estação da morte não a possamos ver, e que ela não apareça.
No entanto, ela existe sempre, mas sob uma outra forma, dependente, tal como ela, na sua essência, da vida contínua, da vida eterna.
As fadas nunca se mostram senão de forma intermitente, como que por eclipses, embora em si mesmas elas subsistam de forma permanente.
Poder-se-ia dizer o mesmo das manifestações do inconsciente.

Fadas Reais - O Cantinho da Estrela

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Lenda Árabe

Diz uma linda lenda árabe que dois amigos viajavam pelo deserto e em determinado ponto da viagem discutiram. O outro, ofendido, sem nada a dizer, escreveu na areia:
Hoje, o meu melhor amigo bateu-me no rosto.

Seguiram e chegaram a um oásis onde resolveram banhar-se.
O que havia sido esbofeteado começou a afogar-se sendo salvo pelo amigo.
Ao recuperar pegou um estilete e escreveu numa pedra:
Hoje, o meu melhor amigo salvou-me a vida.

Intrigado, o amigo perguntou:
Porque é que quando te bati, escreveste na areia e agora escreveste na pedra?
Sorrindo, o outro amigo respondeu: "Quando um grande amigo nos ofende, devemos escrever na areia onde o vento do esquecimento e do perdão se encarregam de apagar; porém quando nos faz algo grandioso, deveremos gravar na pedra da memória do coração onde vento nenhum do mundo poderá apagar".

O vento que sopra nas flores

Há vários anos atrás, em Seattle, Washington, vivia um refugiado tibetano de 52 anos de idade.



"Tenzin", é como vou chamá-lo, foi diagnosticado como portador de uma forma de linfoma das mais fáceis de curar.

Foi internado num hospital e recebeu a primeira dose de quimioterapia.
Mas durante o tratamento este homem, normalmente gentil, tornou-se agressivo e irritado; arrancou a agulha intravenosa de seu braço e negou-se a cooperar.
Gritou com as enfermeiras e discutiu com todos ao seu redor.
Os médicos e enfermeiros ficaram desconcertados.

Posteriormente, a mulher de Tenzin explicou ao pessoal do hospital que Tenzin tinha sido prisioneiro político dos chineses durante 17 anos.
A sua primeira esposa tinha sido morta e ele próprio foi repetidamente torturado e brutalizado durante o tempo em que esteve preso.

As normas e regulamentos do hospital, juntamente com a quimioterapia, fizeram Tenzin recordar todo o sofrimento tinha passado nas mãos dos chineses.

"Eu sei que vocês querem ajudá-lo," explicou ela , "mas ele se sente torturado pelo tratamento, que faz com que ele se sinta da mesma maneira que os chineses o fizeram sentir.
Ele prefere morrer do que viver com o ódio que ele está sentindo agora e, de acordo as nossas crenças, é muito mau albergar tamanho ódio no coração na hora da morte. Tenzin precisa de rezar e limpar o seu coração."

O médico deu alta a Tenzin e encarregou uma equipa da clínica de repouso de visitá-lo em casa.
Eu era a enfermeira encarregada de cuidar dele e entrei em contacto com um representante da Amnistia Internacional para lhe pedir conselho.
Ele disse-me que a única forma de sanar o trauma da tortura era falar sobre a questão.
"Esta pessoa perdeu a sua confiança na humanidade e sente que a esperança é impossível."
Mas quando eu encoragei Tenzin a falar sobre suas experiências, ele ergueu a mão e pediu-me para parar.

Ele disse-me, "Eu preciso de aprender a amar de novo se quiser curar minha alma.
A sua tarefa não é fazer perguntas, é ensinar-me a amar novamente."

Respirei profundamente e perguntei, "E como eu posso fazê-lo amar de novo?"
Tenzin respondeu prontamente, "Sente-se, tome o meu chá e coma os meus biscoitos."
O chá tibetano é um chá preto forte, coberto com manteiga de iaque e sal.
Não é fácil de bebê-lo, mas foi o que eu fiz.

Durante várias semanas, Tenzin, sua mulher e eu nos sentámo-nos juntos e tomamos chá.
Também conversávamos com os médicos para encontrar formas de tratar as dores físicas.
Mas era sua dor espiritual que deveria ser diminuída.
Cada vez que eu chegava, via Tenzin sentado na cama, de pernas cruzadas, recitando preces.
A sua mulher ia pendurando mais e mais 'thankas', bandeirolas budistas coloridas, nas paredes.

Rapidamente o quarto ficou semelhante a um colorido templo religioso.
Quando a Primavera chegou, eu perguntei o que os tibetanos faziam quando estavam doentes na Primavera.
Ele abriu um grande sorriso e disse, "Sentamo-nos e aspiramos o vento que sopra nas flores."
Eu pensei que ele estava falando poeticamente, mas suas suas palavras eram literais.

Tenzim explicou-me que os tibetanos o fazem para serem pulverizados com o pólen das flores, levado pela brisa.
Acreditam que esse pólen é um potente medicamento.
Num primeiro momento, encontrar flores em quantidade suficiente parecia-me um pouco difícil, mas um amigo sugeriu que visitassemos algumas floriculturas locais.
Eu telefonei para o gerente de uma floricultura e expliquei-lhe a situação.

Sua reação inicial foi "Você quer o quê???"
Mas quando eu expliquei melhor o meu pedido, ele concordou.

No fim-de-semana seguinte fui buscar Tenzin, a sua mulher e suas provisões para a tarde: chá preto, manteiga, sal, xícaras, biscoitos, almofadas e livros de orações. Deixei-os na floricultura e combinei ir buscá-los às 17 horas.
No fim-de-semana seguinte, visitámos uma outra floricultura.
E mais outra no terceiro fim-de-semana.

Na quarta semana, eu comecei a receber convites das floriculturas para Tenzin e sua mulher voltarem novamente.
Um dos gerentes disse, "Nós temos uma nova remessa de nicotianas e lindas fuchsias. Ah, sim! E temos belas dafnias.
Eu sei que eles vão adorar o perfume das dafnias!
E eu quase me esqueci!
Temos uns novos bancos de jardim que Tenzin e sua esposa vão adorar!"
No mesmo dia, outra floricultura ligou dizendo que eles tinham recebido cataventos coloridos para Tenzin saber em que direção o vento soprava.

Em breve as floriculturas competiam pelas visitas de Tenzin.
As pessoas começaram a preocupar-se com o casal tibetano.

Os empregados arrumavam os móveis de frente para o vento.
Outros traziam água quente para o chá.
Alguns fregueses regulares deixavam seus carrinhos de compras próximos do casal.
E quando, no final do verão, Tenzin voltou ao médico para fazer novos exames e determinar o desenvolvimento da doença, não se encontrou nenhuma evidência de cancro.
O médico ficou espantado e disse à Tenzin que não conseguia explicar aquilo.

Tenzin levantou o dedo e disse, "Eu sei porque o cancro desapareceu: não podia continuar a viver num corpo tão cheio de amor.
Quando eu comecei a sentir a compaixão das pessoas da clínica, dos empregados das floriculturas, e de todas essas pessoas que queriam saber de mim, comecei a mudar por dentro.
Agora, eu me sinto afortunado por ter tido a oportunidade de ser curado dessa forma.
Doutor, por favor, não acredite que a medicina é a única cura.
Às vezes, a compaixão também pode curar um cancro.

O Vento Que Sopra nas Flores
Uma História Tibetana De Cura
Lee Paton

De Guerreiras a Deusas

Há muitos tipos de mulheres em nossa sociedade, mas a que clama mais alto para a cura, é a Guerreira Ferida.
Há as que almejam transformar-se em Deusas, mesmo que inconscientemente, afinal é esse o grande objectivo.
Quem é a Guerreira Ferida?
A Guerreira Ferida é poderosa, independente, auto confiante e bem sucedida - porque assim têm que ser.
Mesmo assim, elas se ressentem com toda a responsabilidade e obrigação que acompanha o seu papel.
Elas são as únicas ao redor que resolvem tudo, e resolvem tudo rápido e perfeitamente.
Elas são amargas (pelo menos interiormente) em relação aos homens, mas pouco fazem para transmutar esta amargura, que cresce incontrolável.
Elas vêem os homens como o sexo mais fraco, respondendo emocionalmente e agindo ilogicamente - quando eles agem, de nenhuma maneira.
Elas pensam que os homens são somente bons para uma coisa - afastar os móveis.
Bem, duas coisas, talvez.
Há muito tempo, que elas abandonaram a fantasia de um príncipe num cavalo branco ou do Príncipe Encantado.
Elas são sofridas, iradas.
Elas conscientemente ou agressivo-passivamente buscam a desforra contra os transgressores masculinos nesta sociedade patriarcal.
Elas respeitam outras Guerreiras, apesar disso não têm tolerância pelas mulheres "mais fracas", que não carregam a espada da Guerreira.
Elas são ou foram uma boa esposa e uma boa mãe, protegem e sustentam a sua família.
Até agora, Elas expressam até estes papéis através da postura de um guerreiro.
Elas estão cansadas de lutar.
Elas exibiram as suas feridas da batalha orgulhosamente no passado, mas agora que Elas crescem entediadas com a conquista.
A sua armadura é pesada e Elas ambicionam removê-la para sempre.
Elas anseiam pela Deusa dentro de si; ainda que acreditem, Elas não podem sobreviver sem a sua espada da Guerreira.
Deixem-me apresentá-las ao - poder da Deusa.
Quem é a Deusa?
A Deusa é simplesmente – a incorporação do Divino num corpo feminino.
Ela tem discernimento e age com integridade.
Ela tem uma essência de paz interior que é inabalável.
A Deusa irradia uma energia que é tão poderosamente bela, amorosa e suave, que os outros são atraídos para ela como um íman.
Ela pode ter sido uma Guerreira Ferida numa fase, mas ela curou as suas feridas.
Ela liberou a raiva, a dor, o medo, a culpa e o julgamento.
Ela tem se libertado dos sentimentos de traição e de abandono.
Ela substituiu estas emoções vibracionalmente inferiores pela compaixão e alegria.
Ela transformou as suas crenças limitadas, as atitudes, e padrões de pensamento numa aceitação amorosa por todos, como eles são.
Ela não tem necessidade de mudar alguém, pois ela vê o Divino em todos os seres.
Ela compreende que qualquer ataque é simplesmente uma demonstração de medo.
Ela se lembra do medo, e ainda sabe como neutralizá-lo com seu fluxo ilimitado de amor.
A Guerreira Ferida e a Deusa - dois arquétipos femininos poderosos.
Um cansado e ferido; um radiante e curado. Como a Guerreira ficou ferida?
E como ela pode se transformar em uma Deusa?
Para responder a estas questões, Elas devem primeiro compreender como a energia se move nos humanos.
O que são Padrões de Energia Masculinos e Femininos?
Os seres humanos têm uma capacidade de armazenar dados de memórias subconscientes guardados em seu ADN de seus ancestrais.
Algumas culturas acreditam que vivemos outras existências, e estas memórias estão guardadas em seu ADN, também. Com toda esta história, quando o ego faz uma varredura, ele encontra quase sempre uma situação similar, onde Elas foram feridos.
Então ele ergue as defesas para evitar que Elas sejam feridos novamente.
O ego pode levantar sentimentos de medo e de dúvida.
Ele pode iniciar pensamentos, crenças ou memórias que os distraem de participar da situação.
Algumas vezes, ele cria obstáculos que os impedirão de participarem, tais como limitações de tempo, reveses financeiro e até doenças.
Ele fará qualquer coisa para proteger de eventuais dores.
Protege até demais, porque filtra tudo, mau e bom.
Estas defesas limitam os movimentos, mesmo daquelas guerreiras que já perceberam que têm de mudar, e reagem sempre da mesma maneira.
Se Elas reagirem do mesmo modo, Elas obterão os mesmos resultados.
Nenhuma experiência nova pode vir disto.
Elas não podem crescer com isto.
Elas estão casadas com a monotonia.

Baseado no belíssimo texto de Suzanna Kennedy

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Trânsitos de Plutão

Plutão - Se isto é transformação, porque dói tanto?



Quando estamos com um trânsito de Plutão a um planeta ou a um ângulo natal, comportamo-nos temporariamente de uma forma que não é habitual:

*podemos ficar obcecados pelo passado
*podemos demonstrar níveis de ressentimento
*perdemo-nos nos nossos pensamentos
*ficamos profundamente pesarosos
*ou intensamente meditativos
*podem surgir eventos associados aos valores da Casa 8: dinheiro, sexo, morte e nascimento
observamos ou participamos em lutas pelo poder.

Em resumo: estamos cercados pelo poder transformador de Escorpião.
Transformação?
Quem falou em transformação?
Pois sim, com Plutão, temos que enfrentar o renascimento da Fénix em nós e enfrentar esse processo de transformação.
E não temos escolha: só podemos aceitar.
Mas dói muito. Muito, mesmo.
O propósito deste apontamento é ajudar a entender o que nos pode estar a acontecer e encontrar maneiras de trabalhar com a energia do trânsito, em vez de lutarmos contra ela. Plutão fica retrógrado uma vez por ano, durante cinco meses, fazendo as dores parecerem mais íntimas e intensas.
Como o seu andamento é muito lento, raramente se afasta do seu objectivo: o aspecto ao planeta ou ao ângulo natais.
Raramente podemos perceber qual será o resultado do trânsito.
Plutão anda para a frente e para trás nos seus movimentos cósmicos.
Habitualmente só conhecemos o resultado definitivo dois ou três anos depois, apesar de hoje em dia ser comum as pessoas dizerem que ficou tudo percebido.
A diferença na força como reagimos aos trânsitos de Plutão são distintas para os optimistas e para os pessimistas.
Os optimistas resolvem um nadinha melhor os trânsitos de Plutão. :)
O que descobri, em termos pessoais – com uma oposição simultânea de Plutão em trânsito ao meu Sol [em Gémeos, na 1] natal e uma conjunção de Plutão à minha Lua [em Sagitário na 8] –, é que sendo eu um optimista inveterado (Lua em Sagitário / 8 e Júpiter em Aquário / 9), de pouco me serviu a metafísica do positivismo, ao enfrentar estes trânsitos, dos mais difíceis até hoje, no meu mapa.
A maneira como me senti ao longo desses cinco anos com os 2 trânsitos em simultâneo, a maior parte do tempo, nem sempre se coaduna com o meu optimismo básico.
Pensei muitas vezes que estava a ser submetido a uma operação, sem anestesia.
Libertei-me do passado, obcecando-me com ele.
Chorei intensamente por acontecimentos ocorridos há quase trinta anos.
Fiquei zangado ao reviver histórias antigas.
Distanciei-me dos velhos amigos, ao criar novos interesses na minha vida.
Revivi situações da infância.
As mulheres (Lua) da minha vida desapareceram e chegaram outras que também desapareceram e só na última "voltinha" é que permaneceram algumas amigas.
Tantas e tantas situações.
Hoje, tento ajudar os outros a enfrentarem os seus demónios interiores.
Que mudança!
Mas será que ainda sei lidar com os meus trânsitos de Plutão?
Um bocadinho mais, mas isso não evita que sinta intensamente esses trânsitos.
Aprendi a aceitá-los. Já não resisto.
Um trânsito de Plutão significa que não podemos esconder-nos mais do passado.
Acontece que, durante anos, acumulámos em nós uma tal quantidade de capas e reservas que é necessário muito esforço para retirarmos tudo isso e aceitarmos quem somos.
Acumulámos tanto lixo psíquico, que libertarmo-nos disso, é um projecto para toda a vida.
Todos nós precisamos caminhar para a frente, mas parece que somos incapazes de abandonar o passado.
Continuamos apegados à imagem que temos de nós mesmos.
Plutão ajuda-nos ou, melhor dizendo, força-nos à renúncia.
Os planetas lentos ajudam-nos a desenvolver uma consciência ligada ao divino.
Os trânsitos dos planetas lentos impelem-nos a nos abrirmos à mudança e a tentarmos perceber que o divino está em nós.
Que somos Ele, em aprendizagem na crosta terrestre.
Se não quisermos extinguir como os dinossauros, precisamos aprender a mudar à medida que o mundo se transforma – e os que não puderem ou não quiserem, acabarão virando relíquias. Plutão diz: “Muda, renuncia ao passado; aceita a transformação que te apresento.
Mas dói muito. Porque é um trânsito que nos leva à velha distinção entre a personalidade e a alma.
No nível da personalidade, o trânsito de Plutão pode ser um inferno para atravessar.
No nível da alma, pode ser a melhor coisa que nos acontece.
Precisamos aprender a ver com os nossos olhos interiores, não com os exteriores.
Há um propósito para a dor, mas o campo da nossa visão é muito limitado, ainda mais quando estamos mergulhados no "problema".
O nosso ego, que não quer sofrer, diz à nossa mente acharmos estes trânsitos muito maus porque doem.
Podemos sofrer de miopia espiritual e emocional, não sendo capazes de ver ao longe, bem longe, para aprendermos a razão para a dor.
É como fazer uma operação; estamos a cortar uma parte doente do corpo.
Logo depois da operação, dói terrivelmente, e quando isso acontece o corpo está a começar a curar-se.
Plutão parece-se com isto, mas para mais doloroso.
Quando temos um padrão muito arreigado na nossa vida, parece que NUNCA conseguiremos melhorar nessa área de vida.
E, desistimos.
É como, se no íntimo, disséssemos: “Seja o que Deus quiser.”
E, entregamos ao céu.
E aí, damos a volta no nosso contrário.
E, lentamente, muito lentamente, começamos a notar, aqui e ali, que algo está a mudar.
Que, de alguma forma, estamos a melhorar.
É quando desistimos dos nossos esforços para controlar a situação.
É quando aceitamos que essa área da nossa vida não vai mudar.
É quando reconhecemos que fomos derrotados.
É quando já não controlamos mais.
É quando aceitamos que as coisas estão fora do nosso controle e que seria necessário um milagre para resolver a situação.
É quando passamos por esse estado de derrota total.
É quando tocamos o fundo desse padrão em relação àquela situação das nossas vidas.
E temos que a entregar a um poder maior que nós mesmos.
E entregamos ao céu.
E tanto Plutão, como Quíron, Urano e Neptuno, colocam-nos em contacto com níveis do Ser acima da personalidade humana.
Levam-nos a contactar a nossa alma.
É aí, nesse contacto com a nossa alma, quando damos a volta no nosso contrário.
É Plutão no seu melhor Grande parte da dor que sentimos com os trânsitos de Plutão é reflexo e não causa; não é castigo, mas sim reajustamentos.
É consequência, que significa "seguir junto".
Ou seja, a consequência segue junto com alguns comportamentos em que estamos envolvidos e que nos provoca dor.
É inevitável.
Quando estamos enroscados em alguma coisa, e o trânsito de Plutão está a trabalhar para nos desenroscar, mas não queremos abandonar esse comportamento.
Resistimos. Queremos continuar com aquele velho padrão que nos está “matando”.
Muito do que é doloroso lá fora é um espelho do que está dentro de nós e é o que está a criar os nossos problemas.
Plutão força-nos a ver a verdade e, dói.
A verdade pode doer, mas liberta-nos.
Mas primeiro, antes dessa liberdade, ficamos de rastos. Vamos ao fundo.
No entanto, ver a verdade e deixar que as suas acções sejam guiadas por ela, é parte da cura. Somos teimosos, e queremos o queremos, quando queremos.
Acreditamos que sabemos o que é bom para nós.
Muitas vezes sofremos por não conseguirmos algo que seria devastador se tivesse ocorrido da forma que queríamos.
Muitas e muitas pessoas ficam amarguradas por não conseguirem o que querem à sua maneira ou por não terem o controle da situação.
Nem imaginam a quantidade de vezes que já ouvi esta frase, nas consultas de astrologia: "Eu era assim, agora não." Pois! A vida deu-lhes tanto na cabeça que tiveram que aprender à força.
Isto é Plutão. Inexorável!
É por isso que recomendo ser de grande importância que, quando fazemos as nossas co-criações, estas terminem sempre com uma frase semelhante a esta: “Ou que o céu faça o que for melhor para mim.” Temos aqui um exemplo possível de meditação: “Que eu tenha serenidade para aceitar as coisas que não posso mudar, coragem para mudar as coisas que posso e sabedoria para perceber a diferença.”
O isolamento terapêutico na nossa cultura gregária, uma pessoa que se afasta do padrão habitual é encarada como estando “estranha”, é encarada como sendo anti-social, mas muitas vezes, num trânsito de Plutão, o isolamento é curador.
Este isolamento dá-nos a oportunidade de não agirmos mediante velhos padrões.
Decidimos que não vamos fazer mais aquilo, mas não sabemos o que fazer em substituição e é aí que nos retiramos, nos isolamos.
Para reaprender.
Isso dá-nos a oportunidade para nos prepararmos para agir de modo diferente, quando tudo “aquilo” terminar.
Um tempo sozinho é particularmente eficaz.
Momentos de silêncio são fundamentais para escutarmos a voz da alma.
Particularmente quando alguém não consegue ficar sozinho, e entra em todo o tipo de interacções distorcidas, que envolvem controle e lutas de poder.
O isolamento e o silêncio terapêuticos são muito importantes.
As pessoas podem sentir que ficam bem sozinhas, que não irão morrer se não tiverem alguém por perto.
Os relacionamentos não são tão “vida ou morte” como pensamos que são.
Estar só devia ser uma aprendizagem para saber estar acompanhado.
Considerando o isolamento sob outro ângulo, a infelicidade nem sempre adora companhia; às vezes até detesta.
Há épocas que é doloroso estar com os outros e sofrer a sua falta de entendimento ou profunda indiferença.
É preferível, então, estar só e lamber as feridas, compreendendo-as e fazendo o auto-perdão. Podemos afastar as pessoas com a nossa raiva ou angústia.
É uma das formas de nos concentrarmos no nosso “eu” e assim iniciarmos a nossa cura, sem termos de estar preocupados com as necessidades dos outros.
Temos exemplos de reclusão e isolamento plutoniano: os períodos a seguir ao parto.
A necessidade de dar tempo a que surgisse uma nova identificação com o ser que tinha nascido. As sociedades modernas consideram estas reclusões como arcaicas.
É por isso que se fala tanto, hoje em dia, em depressão pós-parto.
Todos os períodos de perda são plutonianos.
Apenas o tempo nos pode fazer perceber a orientação dos nossos guias, e nem sempre tomamos o tempo suficiente para receber essa orientação no decorrer da nossa vida febril.
Nos tempos antigos, tínhamos os retiros e mosteiros.
Actualmente, a pessoa comum não tem nada parecido com isso, mas é pior, não tem consciência da necessidade disso.

Se sentir necessidade de um período de isolamento, faça-o.
É uma solução.


António Rosa
Editor da Editora Anjo Dourado e Editorial Angelorum NovalisEscola de Astrologia Nova-Lis